
Por um instante, essa fotografia nos transporta para uma João Pessoa que, se não era rica em concreto, era fértil em histórias. A Rua Adolfo Cirne, no bairro da Torre, nos anos 1950, era feita de palha trançada e vidas entrelaçadas, famílias inteiras vivendo sob coberturas humildes, à espera da chuva, da colheita do amanhã, do barulho do vento. Hoje, resta apenas o registro e a memória que recusa desaparecer.
Em colunas como a da geógrafa Regina Celly Nogueira, o bairro da Torre ganha alma e passado. Sua prosa revela pavilhões de festas juninas feitos com madeira e palha de coqueiro, quadrilhas que dançavam noite adentro, fogueiras acesas para afastar más energias, tudo isso a poucos passos daquelas casas que desapareceriam com o avanço urbano. E essa imagem rara, agora apresentada novamente, confirma o que já se intuía: as estruturas de palha não eram meras habitações, mas palco de vivências comunitárias.
O bairro da Torre nasceu de antigas terras de engenho, carregando ainda o traço rústico entre frestas de asfalto e arranha-céus que tomariam seu lugar. A tempestade da memória vem, então, não da fumaça, mas do recalque urbano: enquanto a cidade se erguia para o futuro, as casas de palha se desfeziam, fisicamente em 1972, mas ainda vivas nos sussurros dos mais velhos.
Essa é uma homenagem àquelas casas que já não existem, mas que continuam a abrigar algo mais duradouro: a lembrança de tempos em que a simplicidade era sinônimo de humanidade. Cada palha trançada era mais que abrigo: era dignidade. E cada rosto que sorriu por trás daquela tela precária ainda ilumina a cidade perdida, mas nunca esquecida.