
No Brasil, cada vez mais cidades entendem que revitalizar o centro não é luxo, mas estratégia de sobrevivência urbana. Recife decidiu transformar prédios abandonados em espaços de cultura e habitação. São Paulo lançou mão de incentivos para atrair moradores e empresas, reduzindo a distância entre casa e trabalho. O Rio de Janeiro, com todos os seus tropeços, ainda encontrou no Porto Maravilha uma vitrine de reocupação urbana.
E João Pessoa? A capital paraibana parece satisfeita em transformar o centro histórico em um roteiro turístico de “ruínas coloniais a céu aberto”. Sem plano efetivo de ocupação, sem incentivos para habitação, sem visão de longo prazo. O máximo que se vê são reformas isoladas de fachadas que duram até a próxima chuva.
O problema não é falta de patrimônio. A cidade guarda um dos conjuntos arquitetônicos mais ricos do Nordeste, mas sem moradores, comércio ativo e circulação cotidiana, o centro resiste apenas como pano de fundo para fotos ocasionais. Enquanto outras capitais exploram a restauração para gerar desenvolvimento e sustentabilidade, João Pessoa prefere exibir sua herança histórica como peça de museu mal iluminado.
“Não se trata apenas de restaurar prédios, mas de devolver vida às ruas”, lembra José Carlos Martins, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção. A fala, embora genérica, expõe um contraste gritante: o que falta em João Pessoa não são prédios, são governantes com disposição para reocupar a cidade que administram.
Em resumo, enquanto Recife e São Paulo fazem do centro um laboratório de futuro, João Pessoa insiste em tratá-lo como um relicário abandonado. Um patrimônio que poderia ser motor de desenvolvimento continua esquecido, ironicamente, pela própria cidade que mais deveria defendê-lo.