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“Máfia dos concursos”: PF desmonta esquema familiar que vendia vagas em certames de alto nível

Operação “Última Fase” revela que ex-policial militar liderava organização que fraudava concursos com apoio de irmãos, filhos e sobrinhos; prejuízo estimado atinge milhões

Por: Hermano Araruna
05/10/2025 às 23h23 Atualizada em 05/10/2025 às 23h48
“Máfia dos concursos”: PF desmonta esquema familiar que vendia vagas em certames de alto nível

Uma investigação da Polícia Federal (“Operação Última Fase”), com o apoio do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos e do Ministério Público Federal da Paraíba, desbaratou um sofisticado esquema de fraudes em concursos públicos federais, que agia à sombra de laços de sangue e oferecia aprovações ilegítimas para familiares e pessoas ligadas aos investigados.

No epicentro do grupo está Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar natural de Patos (PB), acusado de liderar a organização criminosa. Aos seus irmãos, Valmir Limeira de Souza e Antônio Limeira das Neves, sobrinha Larissa de Oliveira Neves e filho Wanderson Gabriel de Brito Limeira, cabiam papéis específicos: desde selecionar “clientes”, repassar gabaritos, fraudas preparadas até movimentações financeiras.


Modus operandi

  • O esquema usava métodos como o vazamento de prova dias ou horas antes do exame, fornecimento de gabaritos, redação pronta, ou mesmo que outro membro do grupo fizesse a prova no lugar do candidato. 

  • Um caso que chamou atenção: Larissa, sobrinha de um dos acusados, moradora de São Paulo, preferiu fazer o Concurso Nacional Unificado (CNU) em Patos, embora o certame não fosse regionalizado, levantando suspeitas de que o local foi escolhido de forma estratégica no esquema. 

  • O irmão Antônio estava inscrito no concurso da Polícia Federal de 2025, o que demonstra intento de infiltração direta no órgão que investiga o grupo.


Consequências e alcance

  • O grupo já teria aprovado vários membros no CNU de 2024 para o cargo de Auditor Fiscal do Trabalho, cargo de alta concorrência e remuneração inicial superior a R$ 22 mil. Wanderlan, Valmir e Larissa figuram entre os aprovados.

  • O esquema não ficava restrito a esse certame: concursos da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Universidade Federal da Paraíba, além das Polícias Civis de Pernambuco e Alagoas, também aparecem no inquérito.

  • Mandados de busca e apreensão (12), prisão preventiva (3) e sequestro de bens são algumas das medidas cautelares implementadas para estancar o funcionamento da quadrilha.


Riscos, prejuízos e o cenário

A PF estima que cada aprovação fraudulenta, em cargos estratégicos como auditor fiscal ou policial, representa prejuízos públicos milionários ao longo de décadas, dado o alto vencimento, benefícios e aposentadoria desses cargos.

Mais que o prejuízo financeiro, o caso planta uma sombra ética sobre o serviço público: pessoas sem a devida qualificação podem assumir funções essenciais nas áreas de segurança, fiscalização tributária ou controle financeiro. E, ao que tudo indica, o poder da rede ia além das provas; havia uso de documentos falsos e aparente lavagem de dinheiro, inclusive com imóveis ou clínicas como fachada.


O que esperar daqui pra frente

  • Os investigados devem responder por fraude em concurso público, organização criminosa, falsificação de documento e lavagem de dinheiro.Também será necessário avaliar responsabilização daqueles que “compraram” aprovações, candidatos beneficiados pelo esquema, bem como o impacto jurídico de invalidação de concursos, demissões ou exonerações.

  • Do ponto de vista institucional, abre-se o debate sobre mecanismos de controle pré-prova, segurança nos locais de aplicação, investigação social mais rígida e transparência no processo seletivo como um todo.


Este escândalo reforça que nem tudo que parece meritocracia é, e que certas “facilidades” exigem preço alto para a sociedade. Se os concursos públicos são tidos como porta de entrada para um Estado mais justo, casos como este deixam claro que a porta pode ter sido arrombada por dentro. 

 
 
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