Após mais de 170 anos de um legado questionável, a Universidade Harvard decidiu finalmente se reapropriar de um episódio sombrio de sua história. A instituição chegou a um acordo com uma descendente de pessoas retratadas em daguerreótipos tirados por Louis Agassiz, um professor da universidade, que usou essas imagens para alimentar sua teoria racista do poligenismo. A proposta de Agassiz, que afirmava que africanos e afro-americanos eram geneticamente inferiores aos brancos, serviu de base para justificar a escravidão e a segregação racial.
Agora, Harvard cedeu as imagens para um museu dedicado à memória da escravidão, reconhecendo oficialmente a importância desses registros. Os daguerreótipos, capturados no inverno de 1850 na Carolina do Sul, são considerados os primeiros registros fotográficos de pessoas escravizadas. A decisão da universidade vem muito tempo depois das tentativas de justificar práticas desumanas com base em “evidências científicas”, algo que ainda ecoa em debates atuais sobre como a história é tratada nas instituições educacionais.
Essas imagens, capturadas para reforçar teorias pseudocientíficas, estão prestes a cumprir um novo papel: o de lembrança da luta histórica contra o racismo, ao invés de ferramenta de opressão. O fato de Harvard ter demorado tanto para agir reflete o lento processo de encarar o peso de um passado que ainda reverbera em suas paredes. A cessão dos daguerreótipos, além de um gesto de reconciliação, é um passo tímido em direção a um reconhecimento mais profundo da relação da universidade com a escravidão, um vínculo que vai além dos arquivos acadêmicos e exige uma reavaliação crítica da história institucional.
Comente sobre o post