Imagine abrir seu negócio e descobrir que tem um sócio que não investiu, não suou a camisa, não assumiu riscos e nem contratou ninguém, mas que quer 10% do seu lucro. Esse sócio existe: é o Estado brasileiro.
Hoje, empresários e trabalhadores já veem parte de seu esforço evaporar em impostos: cerca de 40% do preço final dos produtos, 20% sobre cada salário, tributos sobre luz, água, internet, sistemas e equipamentos. Agora, a proposta de taxação de dividendos aprovada na Câmara adiciona mais uma fatia à conta.
O argumento oficial é de justiça fiscal, beneficiando em teoria 15 milhões de brasileiros que ganham até R$ 7.500. No entanto, especialistas apontam que a medida é um atalho contábil que não enfrenta o problema real: o gasto público desenfreado. Nos últimos três anos, o Brasil bateu recordes de arrecadação, R$ 1,27 trilhão em receitas, mas continuou gastando mais do que arrecada: R$ 1,616 trilhão em despesas, criando um déficit estrutural que já ultrapassa 76% do PIB.
Para economistas, taxar dividendos é uma estratégia de curto prazo, que faz o lucro do empreendedor parecer culpado por desigualdades que não criou. “A produção de riqueza não é jogo de soma zero. Punir quem produz não resolve o problema da desigualdade”, afirma o economista Samuel Pessôa, da Fundação Getúlio Vargas.
Além disso, o país já enfrenta desafios estruturais: alta carga tributária, baixa produtividade, milhões de analfabetos e quase metade da população sem educação básica completa. Criar inimigos imaginários, como o empresário que lucra, mascara a verdadeira questão: a ineficiência do gasto público.
No fim das contas, a pergunta que fica é simples: com tantos tributos, custos e burocracia, quem ainda vai querer investir ou abrir uma empresa no Brasil? O risco de ver o país afundar em uma economia que premia a ineficiência e pune o mérito é real.